terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um sorriso irritantemente beijável.




Ela estava sentada, sozinha e com seus pensamentos levianos ao som de ''30 seconds to mars''.
Aquele era o mundo dela, ninguém ou nada a interrompia.
Mas numa tarde ensolarada e vazia de um domingo qualquer, algo a chamou atenção, e era difícil esse fato acontecer. Mas essa coisa em que ela reparava, era mesmo totalmente impossível de não notar. A ''coisa'' era branca, era radiante, tinha cabelos dourados e um sorriso espetacular que ia de uma ponta da boca até a outra, fazendo um formato desigual. O vento balançava as folhas das árvores que rodeava o parque, e ela estava boqueaberta com o que admirava incessantemente.
A ''coisa'' por questão do destino, ou por simples vontade, ou talvez por ter reparado nela, sentou-se alí, exatamente no banco onde ela estava.
Crianças gritavam atrás de uma bola murcha que ia de um lado para outro, jogada por adolescentes idiotas, que não tinham nada para fazer.
Mas apesar de tanto barulho em volta daquele banco, o silêncio reinava alí. Ela então resolveu olhar o livro que a ''coisa'' lia, discretamente desviou o olhar em direção ao livro dele. Ela conseguiu entender algo como: ''Segredos de uma noite'',
Ela amava aquele livro. Amava mesmo, já havia lido muitas e muitas vezes. Sem pensar soltou:
- ''Olha! Você tem muito bom gosto.''
A ''coisa'' a olhou assustado, pois estava tão concentrado, que não reparou quem estava ao seu lado. Mas educadamente respondeu:
- ''Você gosta? Está falando do livro não é?''
Ela pensava que ele a havia ingnorado, mas ao ver que ele tinha respondido, corou um pouco e disse:
- ''Sim. Gosto muito, aliás todos os livros desta saga são maravilhosos.''
Ele sorriu, e ela sentiu um leve frio na barriga. Então ele disse com um sorriso de lado:
- ''Concordo. Mas como seria mesmo o seu nome?
Ela não esperava que ele fosse se interessar pelo nome dela, mas assim mesmo fez questão de responder:
- ''Marília. Meu nome é marília, e o seu?''
Ele sorrindo como de costume respondeu:
- ''Cris.''
Ela ficou meio envergonhada mas mesmo assim perguntou:
- ''Só Cris? não seria Cristiano, Cristian?''
Ele deu uma risada alta.
- '' Só! Parece estranho, mas é só Cris mesmo.''
Ela sorriu junto com ele, para não parecer deslocada.
- ''Bom, o que você faz por aqui hoje? Não costumo te ver por esses lados. Venho sempre por aqui, e nunca o vi.''
Ele olhando para as crianças gritando respondeu:
- ''Ah, é porque sou novo na cidade, e vim conhecer os pontos bonitos que me indicaram. Mas já vi que estavam certos sobre as mulheres daqui.''
Ela arregalou os olhos, e como era extremamente impulsiva perguntou:
-''Como assim?''
Ele fechou o livro e respondeu:
- ''Me falaram que as mulheres daqui são muito simpáticas e bonitas. Muito bonitas por sinal.''
Ela estava totalmente corada, e com certeza ele havia notado.
- ''Hum.. Quem lhe disse isso? Não sou muito simpática, na verdade você me pegou num dia de humor neutro.''
Ele sempre respondia tudo sorrindo e isso a estava irritando.
- ''Nossa! Mas que personalidade. Eu já havia percebido isso, por conta disto, sentei ao seu lado.''
Ela fez uma cara de desenteresse:
- ''Desculpe a franqueza, mas o senhor ''sorriso'' está dando em cima de mim?''
E sorrindo ele disse:
- ''Senhor sorriso? Uau! Ninguém nunca antes havia se incomodado tanto com meu sorriso espontâneo.''
Ele fez uma pausa e continuou:
- ''Se estou dando em cima de você? Porque acha isso?''
Ela já estava desligando o Mp4 para ir embora, quando olhou para ele e disse:
- ''Como sabe que seu sorriso me incomoda? Desculpe se não deu em cima de mim, mas parece. Ou costuma mesmo ser tão aberto com quem não conhece?''
Ele dessa vez não sorriu, apenas disse:
- ''Alguém já te falou que teus olhos te entregam mais que tuas palavras?''
Ela olhou nos olhos dele e disse:
- '' É? E o que você vê neles agora? O que acha que quero te dizer?''
Ele soltou aquele sorriso novamente, se inclinou até que ficasse bem de frente aos olhos dela e disse:
- ''Sinceramente? Acho que desde que cheguei nesse parque, você me olha discretamente, mas com um olhar de quem quer me conhecer. Acho também que quer me beijar agora mesmo, porque não aguenta mais me ver sorrindo.''
Ele continuou sorrindo, mas agora um sorriso de lado. E ela corou.
-''Acha mesmo tudo isso? Pois então me beije logo, porque não aguento mais ver seus dentes.''
Ele colocou o livro do outro lado do banco e olhou ela nos olhos, segurou sua mão e a beijou.

Ela sabia que aquilo era extremamente fora do comum. Beijar um cara que ela nem conhecia, mas que contraditoriamente realmente a conhecia. Não parecia tão errado assim, beijar alguém por não querer mais o ver sorrir. Parecia na verdade confortante e sem regras.



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