domingo, 8 de abril de 2012

Chei-rar.


- O que você está fazendo aqui outra vez, Melina?
- Só.. Senti falta de sentir teu cheiro.
(Ela olhou ele nos olhos com fervência)
- Não sei por que ainda insistes nisso...
- É simples.
(Ele queria falar, mas preferiu só acender um cigarro)
- Me dá um?
- Cigarro?
- É, e o que mais seria?
(Ele deu)
- Você vai ficar calado?
- E o que quer que eu fale?
(Tragou com toda força)
- Acho que seu cheiro não é mais o mesmo.
- Por que?
- Está azedo.
- É o cigarro.
- Não não... É você mesmo.
- E qual costumava ser o meu cheiro?
- Cheiro de tardes chuvosas, com um pouco de grama por cima. Sempre que te abraçava, teu cheiro ficava no meu casaco.
(Ele só tragava, ainda calado)
- O cigarro nunca foi o problema.
- O problema sempre fomos nós.
- É.
- Quer outro cigarro?
- Não.
- Então acho que já vou.
- Boa sorte.
- Com o que?
(Ele jogou a bituca de cigarro no chão, pisando nela)
- Com seu cheiro azedo.
- Ele me faz feliz.
- E já não me faz mais.. Acho que precisava disso para ter certeza.
- Desculpe.
- Não, não se desculpe! Os cheiros mudam, assim como as estações e sentimentos.
(Ele sorriu)
- Espero que encontre outro olfato por aí. Um olfato que te ame, tanto quanto o meu te amou.
- Cheiros são sempre lembranças.
- Eu bem sei.
(Ela piscou pra ele, como se quisesse avisar que estava tudo bem)

E ela pensou enquanto ele ia: - ''É, o cheiro não é mais o mesmo. O sentimento também não.. Mas as memórias parecem parar no tempo. Ainda posso sentir o cheiro do seus olhos quando dizia que me amava.''

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