segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Expressões não quer dizer muita coisa.


Sentados um ao lado do outro, eles refletiam o que queriam.
Refletiam, e também tentavam ensaiar periodicamente o que dizer um ao outro de uma maneira menos sem noção o que sentiam.
Ela estava calada, e sua boca estava seca. Ela tinha medo até de molhar os lábios, pois cada movimento era uma deixa. Apesar do nervosismo, ela estava plena, pois sabia que ele também tinha algo a dizer-lhe.
Já ele? Ah.. Ele estava calmo, sereno e com um sorriso de ponta a ponta. Um sorriso que só ele possuía, de um jeito que só ele sabia cativa-la. Dá pra imaginar aquele sorriso que começa do lado esquerdo, e vai se esquivando pro lado direito,como não quer nada, e acaba tirando toda a sua atenção do resto do mundo? Se você conseguiu imaginar, deve estar se sentindo da mesma maneira que Luiza sentia-se.
E o pior de tudo, ou talvez o melhor, era que ele sabia que tudo isso mexia com ela. Ele tinha a certeza que tinha efeito sobre ela, e o que mais deixava ele seguro era isso.
As vezes isso pode parecer tão ruim, quanto um amor mal resolvido. Mas por outros carnavais, sentir esse poder é legal. E sentir esse domínio de outra pessoa sobre você, também é confortante quando você também sabe que pode dominá-lo, o problema é que não tem coragem de suprir isso.
Enquanto milhares de coisas passava-se pela cabeça dos dois.Ela decidiu falar, mesmo com a boca seca as palavras ousaram sair.
-''Murilo, talvez agora você pudesse me mostrar aquela carta''
Ele só esperava essa atitude. E foi pegar a tal carta.
-''Aqui está. Está pronta para abri-la?''
Ela soava meio constrangida, mas ao mesmo tempo confiante.
-''Não.''
Ele sorrio sem culpa. E pegou na mão dela.
-''Seu nome deveria ser insegurança e não Luiza.''
Ela fez uma cara de desaprovação para ele, mas soou como brincadeira de melhores amigos. Isso mesmo, eles eram amigos a muito tempo. Nunca haviam se beijado, e nem se declarado um paro o outro. Era apenas uma amizade de longos e fieis anos.
Ele interrompeu o sorriso e disse:
-''Não entendi, esse teu não com tanta clareza.''
Ela parecia séria.
-''Eu realmente estive curiosa esses dias, para saber a quem você pretende entregar essa carta com palavras tão seguras, as quais você falou pela semana inteira.. Mas se quer saber agora não tenho a mínima vontade de lê-la.''
Ele fez um sinal com a sobrancelha de quem não estava entendendo nada. E logo disse:
-''Você é extremamente louca. Não, não.. Você é bipolar. Passou a semana inteira me infernizando para saber a quem eu me referia na carta de ''palavras sinceras e certas'' como você mesmo fala. Me pede para ver, e agora diz que não vai lê-la? Ah vai sim. Nem que eu leia para você.''
Ela não fez nenhuma expressão após aquelas palavras irônicas dele. Mas respondeu rápido, depois dele terminar de falar.
-''Ah, quer saber mesmo? Eu não quero ler. Sei exatamente o que você escreveu aí dentro. E imagino a quem entregará. Deve ser no mínimo alguma menininha fútil, sem cérebro, que usa roupas coladas no esqueleto que ela provavelmente possui. Gosta de músicas que tocam todos os dias naqueles programas de exposição da vida alheia. E não gosta de literatura. Pronto, já é o bastante pra mim.''
Ele gargalhava enquanto ela falava, e isso a irritava. Era visível, pois ela estava terminantemente corada.
Ele sobre as gargalhadas disse:
-''Você me faz ter crises de riso com toda essa sua política sobre as meninas que nos rodeiam. Aliás, que me rodeiam.. E que você morre de ciúmes, mas não admite.''
Ele podia ver as pupilas dela arregalando-se de raiva e imprudência. Por instantes ele teve medo, mas depois gargalhou.
Ela levantou o dedo indicador, e pôs sobre o rosto dele.
-''Como ousa dizer uma baboseira dessas? Como ousa.. Mas.. Você é mesmo um imbecil. Sempre se acha lindo o bastante pra ter todas que te rodeiam né? Pois fique sabendo, que nunca tive ciúmes de você. Nem nunca vou ter. Ah.. Faça-me o favor Murilo.''
Ela estava totalmente fora do eixo. E aí vem aquela história do começo. A história do poder que ele tinha sobre ela. Agora era irritante, não era mais nem um pouco confortante.
Ele então decidiu pegar nas mãos dela. Totalmente imbecil esse ato dele. Pois saibam, que nunca se pega nas mãos de uma garota, que se sente acanhada com alguma situação.
Mesmo assim ele pegou.
Os olhos dela arregalaram-se e o coração palpitava. Ele sentia o suor nas mãos dela, então ele parou de sorrir. Pegou a carta da outra mão dela, enquanto ela só ficava sem entender o que ele fazia.
-''Você não vai mesmo ler? É uma pena mesmo.. Pois passei a semana toda, imaginando como seria a sua reação quando a lê-se.''
Ela estava sem nenhuma expressão como de costume. Só disse:
-''Ainda não entendo, porque você quer tanto saber minha reação''
Ele soltou as mãos dela, e pegou a carta.
-''Além, de você ter enchido a minha paciência querendo saber o que tinha aí, eu pensei que sei lá. Você sempre esteve ao meu lado, e sempre deu sua opinião em tudo na minha vida. Pensei que dessa vez não seria diferente, mas se é. Tudo bem, eu não vou mais entregar a carta.''
Ela agora fazia uma expressão. Uma expressão de indagação.
-''Como assim? Porque não Murilo? Você estava tão ansioso.. Me desculpe certo? Não queria me exceder. É que você me tira do sério, sem nenhum porquê.. Besteiras minhas. Prossiga com a carta, falo sério.''
Ele parecia bem desanimado agora.
-''Não, agora já não tem pra que.''
Ela pegou a carta da mão dele, e abriu. Mas quando ela ia lê-la..
-''ESPERA LUIZA! Não leia agora.''
Ela parou, olhou pra ele e falou:
-''Ué, mas porque não?''
Ele simplesmente pegou a carta da mão dela tão rapidamente e rasgou em pedaços.
Ela ficou alí espantada, com o que via.
-''Murilo? O que foi isso agora?''
Agora era ele que suava, e que sentia aquela sensação de que alguém tem um poder sobre você, mas pior ainda.. Nem sabe que tem esse poder. Só tem. É uma questão de ação e reação. Química pura. E agora os papéis se trocavam, quem suava nas mãos era ele. Quem falava era ela.
-''Murilo.. Eu odeio quando você faz essa cara. Começa logo a falar o que foi isso.''
Ela sentia aquele poder trocar de lugar. Mas ela não mudou a expressão, ela nunca mudava.
Ele chegou perto dela, com um dos pedaços da carta na mão e entregou. Só entregou e foi embora.
Ela olhou para ele, séria. Mas esperando uma resposta que a convencesse que aquela atitude tinha sido de alguém normal.
Ele se afastava dela, e ela não ousou chama-lo. Quando ele foi embora, ela sentou-se num banco que alí estava e percebeu que estava com um pedaço da carta na mão.
Olhou para o pedacinho da carta, e decidiu ver o que estava rabiscado. Conseguiu ler algo como:

''Essa semana foi difícil, pois procurei em todos os livros de Machado de Assis, algo que a fizesse entender o quanto a amo. Mas como de costume, não achei nada. Só sei que é você.

Amo você, sua inexpressiva.
Ass: Murilo.
Para: Luiza.''

Ela leu aquilo, e pela primeira vez reagiu imediatamente, não ficou sem expressão dessa vez. Agora a face dela mostrava algo como: ''Eu sou a garota mais imbecil do mundo, como não percebi isso antes?''
Então ela só ficou alí, esperando ele voltar. Porque ela sabia, que ele ia voltar.
E pode apostar que ele voltou com os outros picados que fez da carta.
Voltou com o sorriso mais amarelo que ela já tinha o visto.
Voltou sem o poder sobre ela. E ela alí sentada, também sem poder algum, apenas com expressão de boba.
Ele sentou-se ao lado dela e disse:
-''Finalmente a vejo com alguma expressão imediata. E foi a única e melhor expressão que a vejo até hoje. Completamente apaixonada.''
Ela riu, e dessa vez só riu. Abaixou a guarda e deixou ele a beijar até as expressões mudarem.
E creio eu que não iriam mudar durante muito tempo.





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