sábado, 12 de março de 2011

A insanidade de um parecer.


Era uma tarde linda. Clara e quente.
O sol fazia questão de aparecer.
Num café perto dalí, estava um jovem jornalista lendo suas anotações de sempre.
Até que olha do lado esquerdo, entrar pela porta do recinto uma linda moça.
Linda, mas que parecia preocupada. Cabelos pretos, bem pretos. E curtos, acima dos ombros.
Ela tinha um olhar conturbado, e sua maquiagem estava levemente borrada. Ela dava sinais de que não dormira a noite passada.
Ele a observou durante minutos.
Ela pediu um café forte. Parecia que queria continuar acordada.
Ele ainda a olhava. Ela havia percebido que estava sendo observada.
Ele nem tentou desviar o olhar.
Ela nem ousou não olhá-lo.
Olharam-se. Ele levantou-se.
Ela continuou o acompanhando com os olhos.
Ele sentou na frente dela.
Ela levantou as sobrancelhas.
Ele coçou a barba.
Ela continuava de sobrancelha em pé.
O café chegara.
Ela olhou a xícara, assoprou e nem exitou esperar esfriar mais. Tomou.
Ele sorrio.
Ela se queimou.
''- Ai! Merda. E quem diabos é você?''
Ele sorrindo:
''- Nem sei.''
Ela revirou os olhos.
''- Ah, mas era só o que me faltava. Mais um louco.''
Ele queria isso. E conseguiu.
''-Por que mais um? És outra louca?''
Ela se limpando.
''- Pareço?''
''- Levemente.''
''- Fala sério, não tenho celular ok?''
Ele deu uma gargalhada. E bateu na mesa de leve. Espontâneo.
''- Realmente acha que isso é um flerte?''
Ela estava com cara de indignada.
''-Não.. Eu não acho. Eu tenho certeza meu querido! O que mais isso pode ser? Você me olha, senta em minha mesa, faz eu me queimar com a porra do café. O que é isso? Tem problemas de autismo ou algo do tipo? Por que se tiver.. Escolheu a vítima errada. Sou pior.''
Ele só observava o jeito que ela mexia as mãos quando falava.
''- Hum.. Você é um tanto.. Brava não é? E não.. Não sou autista. E nem estou lhe paquerando. Mas não sinta-se ofendida. És linda.''
Ela revirou os olhos outra vez. As mãos estavam na xícara agora. Com cuidado ela tomou dessa vez.
Ao terminar de beber o café disse:
''- Ah certo então. Agora já vou ok? Querido.. É.. Assim, foi ótimo sua presença indignável. Me retiro, e pode pagar o café já que me acha linda. Tchau.''
Ele a olhou com uma feição de quem não fazia ideia do que ela estava falando.
Levantou. Os dois agora estavam de pé no café.
''- Só por que achei-a linda, não quer dizer que quero pagar seu café, linda moça.''
Ela baixou a cabeça, respirou fundo.
''- Cara você re-al-men-te tem problemas. Não é possível! Não quer pagar a porra do café? Certo! Pago eu mesma. Agora quer dar licença que tenho afazeres?''
Ele continuou parado.
''- Diga-me seu nome.''
Ela nem acreditava que ainda estava alí parada. Mas algo parecia certo.
''- E por que? Nem te conheço. Você nem sabe quem é.''
''- Sou jornalista, me chamo Pedro.''
Ela estava meio constrangida. Nem sabia o por que.
''-Ah, mudou muita coisa. Me chamo Marilyn Monroe e sou atriz.''
Ele gargalhou.
''- Faz jus ao nome. De tão linda. Mas és tão intensa e preocupada. O que te aflinges?''
Ela agora havia feito feição de quem realmente estava odiando a conversa. O assustou um pouco. Mas não o bastante.
-''QUER MESMO SABER O QUE ME AFLINGE? O SENHOR ME AFLINGE!''
Ele sério.
''- O que fiz Marilyn? Me perdoe a indelicadeza.. Mas realmente te achei magnífica desde que entrou neste café. E eu não conseguiria sair do mesmo sem trocar pelo menos 2 palavras com a senhorita. E perdão pela queimadura.''
Ela parou nesse momento. A respiração melhorara. Mas ainda estava muito vermelha.
''- Marilyn? O senhor é um louco! De pedra mesmo. Mas até que prefiro estar aqui agora, do que em outro lugar.. Só agora. Antes não, me pareceu insano. E de insana já me basto.''
Ele abriu os olhos fortemente.
''- Ah! Eu sabia que era exatamente o que pensava. A senhorita é solitária e insana. Assim como um rapaz chamado Pedro.''
''- Por que diz essas coisas? Está mais parecendo um pscicólogo do que um jornalista.''
Ele sorrio.
''- Não, sou um jornalista mesmo. Mais um. E nem precisa ser pscicólogo para saber que você é assim. Deixa transparecer com frequência. Vi desde que entrou. Perdão outra vez se...''
Ela nem deixou ele terminar de falar e logo foi falando.
''- Não, tudo bem.. Páre com os perdões. Já pediu o bastante.''
Ela parou.. Olhou em volta. E continuou.
-''Eu estava realmente preocupada. Para sem sincera ainda estou. Mas conversar com o senhor me aliviou praticamente toda a tensão. Mesmo o senhor sendo altamente louco. Sua loucura me contagiou. Obrigada.''
E só sorrio.
Ele nem esperava essas palavras. Não mesmo. Mas já que assim era...
''-Oh! Que maravilha.. Eu humildimente agradeço suas palavras. Já que disse que lhe acalmei Marilyn, posso pedir-lhe que me acompanhe num passeio?''
Ela sorria ainda. Os olhos brilhavam um pouco. A preocupação se esvaia.
''- Por favor. E onde vamos?''
Ele fazia caminho com as mãos para ela passar pela porta do café enquanto dizia:
''-Vamos a um jardim, precisa de ar puro. E lá é bom para esbanjar alegria.''
Ela andou em direção à ele.
Caminharam pela calçada até o jardim que ele falava.
Ela colocou a mão sobre a dele. Ele assustou-se. E sorrio.
Eles sorriam.
Chegaram ao jardim e ela sentia a paz brotar no peito. Fechou os olhos e apenas sentiu o vento.
Quando abriu os olhos, ele estava diante dela com uma rosa vermelha que havia tirado de um ramo de outras rosas que tinha por perto.
Ela o viu ali. Ficou sem ação. Ele sorrindo disse:
''- Você me parece uma rosa. Quando entrou naquele café, vi uma rosa. Com esses cabelos pretos e esse batom vermelho borrado.''
Ela corada nem sabia o que dizer.
O abraçou.
''- Obrigada Pedro.. Pedro não é?''
Ele fez que sim com a cabeça.
''- Obrigada. Por tudo isso.. Mesmo eu sendo tão grosseira e insana. Na verdade a insana fui eu. Sou eu.''
Ele gargalhou. Nem disse nada. Estavam de mãos dadas. Ela estava amando aquilo. Ele nem exitava pensar à respeito.
Ela virou para ele do nada, enquanto andavam. O cabelo estava caído no rosto, o vento ajudava. Olhava para baixo e levava um leve sorriso no rosto.
''- E à propósito meu nome é Ísis.''
Um silêncio deu-se.
Continuaram em silêncio, se olhavam. Sorriam também, isso era importante.
Esse nome era importante. Ela sabia disso como ninguém. E ele também.
Era uma certeza de que estavam fazendo a coisa certa.
Continuaram sorrindo. E continuaram gargalhando. As mãos entrelaçadas.
E ele dizia: ''-Ísis... E Pedro. Sooa bonito não acha?''
E ela repondia: ''Lindo. Melhor que Marilyn e Pedro. Bem melhor.''



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